24.3.05

Francisco Rebolo dá 'sonoridade' ao Porquê com: O homem do Tambor e o Tambor que lixa

“Acendam-se os fósforos nos tambores”
“....ao longo do sambódromo as personagens delirantes rodopiam-se num frenesi de histeria pura e o som dos tambores inter-age com os seus corpos..."
...um turbilhão de gente é arrastada em torno de um palco móvel, estruturado hierarquicamente....
ali todos exibem o tambor que vive dentro de si. Ao ritmo do samba o povo espelha a imaginação que bate sob o efeito de ilusão no tambor...”
A sua sensibilidade passa sempre pelo Tambor. Este é composto por duas faces que se espelham uma na outra. Tudo o que lhe toca tem resposta imediata. O Tambor nos homens é um espelho com repercussão virtualmente equilibrada entre este e o seu meio. Apto, para absorver qualquer sintoma inerente á sua posição no espaço e simultaneamente para ser absorvido, cabe a nós dirigirmos cada uma das suas faces, com perspicácia.
A realidade do Tambor não é autônoma existe entre os seres e a sua realidade.Esta é a sua realidade individual, um ponto de consenso entre o sujeito e os objectos que o rodeiam. O Tambor não se restringe apenas á diversidade dos sons, sopra um gosto vibrante em todas as palavras, isto porque disfarçado e quase nunca questionado é considerado natural. Diria mesmo, que é um órgão virtual entre o próprio cérebro e o coração.
“...o tambor que lixa é um ruído porque não é um tambor,vive pendurado no meu pescoço, vibra!!! È um vibrado ou talvez um fio de ouro geneticamente estudado por Deus, um crucifixo!....”
“O Tambor requer um determinado afastamento,cada um vive com a sua medida. Cada individuo ocupa uma determinada posição, a relação entre esta e a sua realidade, encontra-se no modo como o Tambor apreende a vibração da realidade. Ambos utilizam o mesmo canal para comunicarem.”
“O jogo começa e termina no consenso de uma balança,as respostas dificilmente conseguem existir como seguimento das questões do jogo da realidade.” A perspicácia de utilização do Tambor parte de um primeiro nível educacional. Compreendido o modo de entrar em cena, a posição do tocador não pode ser a do reflexo sobre o espelho (o acompanhamento musical de toda a cena).
“... coordenadamente sobre as duas faces, o Homem do Tambor faz a percussão total da marcha. ...pulavam e sorriam, como se este lhes fizesse esticar as peles da cara...”
“.... entre as cores da Terra, encontro uma tribo de negros, isolados numa clareira. Dançavam exorcizados ao encontro das imagens que o som lhes proporcionava.... ... esmagadas as duas mãos negras sobre a única face do Tambor, tornou-se impossível acompanhar com o olhar a histeria de sons que faziam vibrar as peles do batuco e toda aquela gente.....”
Entre nós e o Tambor mediático deve existir uma distância que seja variável ao modo como as circunstâncias se abatem sobre as suas faces. O ritmo, esse é coordenado pelas acçoes lógicas, que se repetem tautologicamente. O Homem do Tambor pretende acompanhar com o som da sua percussão a melodia da sua realidade.(O real marca o tempo musical) O batedor visivelmente dispõe de um ou duas faces do seu Tambor, para executar a batida. Esta propaga-se normalmente a um nível mais alto de som. O jogo dos sentidos interligam se, e as regras põem fim a uma possível continuidade da melodia chamada realidade. Essa continuidade passa em primeiro lugar pelo aspecto pedagógico da absorção. O mais simples e suave pormenor poderá ter na percussão um prolongamento com um fim inesperado. A resposta mais curta nem sempre é a mais rápida de se percorrer.
A maquina inflamável funciona como o Tambor. O objecto da realidade entrou no Tambor e as paisagens tornaram-se cibernéticas. Um simples botão contêm uma inúmera quantidade de sons e imagens que se interligam como um sistema nervoso intra-activo. O mundo exterior passa para dentro do Tambor e as regras do jogo enrijecem num desequilíbrio mediático. O Homem do Tambor aproxima-se demasiado deste, e torna-se nele mesmo confundindo-se com a paisagem mediática que o absorve. O êxtase está na química do Tambor, o ritual selvagem retoma uma posição de choque.As imagens tomam um contraste com o ritmo e articulam-se com a realidade da máquina computadorizada.Dentro do Tambor a realidade eleva-se ao cubo e a realidade virtual ocupa o seu lugar como mundo absorvente.
“Em plena selva, várias tribos suburbanas encontram como refugio espaços próximos do céu e dos astros... ... montada a tenda de circo e erguidas as colunas do templo virtual,começa se a desfazer o som num caos tecnológico virtualmente semelhante ao natural. ...dentro das cabeças dos discípulos o estado de trance apodera-se é velocidade louca dos ácidos...as imagens começaram a surgir e desenham-se numa infinita manipulação do Tambor, que vibra extasiado pelo som.O surrealismo hipnótico das imagens ergue-se em oposição ao realismo tecnológico e urbano.”
É no meio termo entre a realidade individual e a realidade envolvente que encontramos o nosso Tambor. Uma cultura individualista aproxima-se e em ascensão. As diferenças são encontradas dentro do plágio dos objectos. A diversidade coexiste com uma escolha,pré-definida!
O Tambor soa de dentro para fora e sobre as peles exteriores, vive ainda a realidade.
O objecto da arte sofre de uma mesma definição de som. Esteticamente analisado dentro do Tambor soa a um individualismo organizado em circulo fechado. Os valores tomaram a liberdade por alguma coisa que só pode ser conquistada num sitio desconhecido. Não acompanhar a realidade será difícil e difícil é realmente aproximarmo-nos dela. Quando a definição estética da arte encontra a sua liberdade dentro de um sistema, cujas questões valem como resposta a um êxito proferido ao nível dos bens matérias e da fama.
Os valores artísticos tornaram-se antagônicos.
O objecto da arte vive como registo, de uma escolha, e não como uma realidade concreta.
Os audiovisuais apoderaram-se dos registos que algum dia poderiam ser históricos.
O Tambor toca de dentro para fora!
Qualquer sintoma manifestado dentro da chamada arte, se torna demasiado previsível. Fora do Tambor a realidade e a liberdade,oferecem-nos a subtileza e a acçao como armas contra o fantasma que a realidade intra-activa do Tambor nos proporciona.
“O Tambor não respira expira poeira faz-nos espirrar, rodamos mais uma volta no carrossel e chamamos-lhe uma revolução!
Tem de se saber bater no Tambor, porque o Tambor é do maestro lá da banda.
Fósforos nos Tambores que nos lixam!”
A arte começa no seu próprio fim.O registo existencial permanece para além da intenção,por isso exige da acçao a subtileza adequada a um fim com o registo nas cinzas.
“...Cubram-se as faces dos Tambores com lixa e acendam-se os fósforos luminosos o suficiente para queimar os registos da própria luz..
Nota: A lixa sobre o tambor faz a realidade rastejar no atrito desta.

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial

Locations of visitors to this page
eXTReMe Tracker