31.5.05

Pega no livro, leva o livro

A cultura, através da leitura começa a fazer parte de mais uma moda consumista, vai-se a feira do livro e começa-se a ver uma porção de pessoas que compra pelo prazer de comprar, não porque está a comprar um livro, que obviamente dá um enorme prazer, mas apenas pelo gesto de comprar qualquer coisa, gesto que em si está pleno de uma atitude consumista, estragando assim por completo o momento mágico que é comprar um livro, momento esse que ainda esta espelhado nuns quantos rostos que por lá passeiam.
O prazer da escolha, o prazer de pegar no livro que ainda não foi lido, o prazer de sentir o cheiro do papel novo e da tinta não borrada perde-se para o consumismo do mundo livro, e para mais uma moda elitista de uns quantos que podem chegar e pegar nos livros que tem as capas mais bonitas sem fazerem qualquer tipo de selecção. A minha interpretação pode levar a pensar que estou a ser um tanto ou quanto preconceituoso, mas as feições apagadas de prazer que vi em algumas pessoas a quando do momento de comprar um livro leva-me a pensar desta maneira.

24.5.05

A justificação como resposta ao porque

A invenção de razões transcendentes para se poder justificar acções e atitudes que são realizadas por auto-interesse, instinto ou por qualquer preconceito, podia ser considerado como inofensivo se a filosofia justificativa deixasse de existir, mas uma vez começando a existência de algo tão adquirido como a banal justificação, é difícil por termo a tamanha acção utilizada infinitamente. Não deixaremos de a utilizar, bem pelo contrario, continuaremos a utiliza-la para conseguirmos desenvolver a teia de relacionamentos sociais, e para se tirar quase como que por lógica perfeita uma série de conclusões.
A justificação funciona como que uma quase resolução da acção específica que premeditadamente as pessoas se propõem a justificar.
A questão da necessidade da sua utilização funciona quase como que uma resposta inconsciente de, rapidamente minimizar algo que sabemos que não foi praticado consoante o esperado. Se tal acontece a justificação acaba por ser a causa de uma determinada acção, que muitas vezes é utilizada de uma maneira premeditada.
Passa-se “metade do tempo” a justificar, basta olharem para quem fala com vocês ou para a televisão ou jornal, reparem na quantidade de vezes que o vosso interlocutor se justifica. É inacreditavelmente surpreendente a quantidade de vezes que isso acontece.

16.5.05

A descida pelas águas da verdade

Quando é que se perde alguém verdadeiramente? A morte física significa um afastamento perpetuo, mas a presença imortal continua ao nosso lado, mas quando a morte não é física mas sim emocional a presença dessa pessoa na sua essência mundana continua presente, mas a lembrança morre. Quando isto acontece será que existem ferramentas ao nosso alcance para se poder mudar tal acontecimento? O confronto com a inexistência de amizade que é o maior valor que existe numa relação entre dois seres humanos, será causa infinita de um afastamento? A resposta que infelizmente me ocorre, é que sim, aquilo que se pensa inabalável, seguro pelos alicerces mais resistentes, são destruídos pelas causas menos susceptíveis de tamanha destruição… mas quando assim acontece, dizendo com a maior tristeza, “há males que vem por bem”.

9.5.05

Parabéns

Palavras que falam, palavras que não dizem, caras que não falam, caras que dizem. Sim, por vezes somos confrontados com o silêncio das palavras, mas que interessa, quando o sorriso e os olhos podem dizer muito mais. O não conhecimento das expressões de quem está a nossa frente poderá ser um obstáculo para tamanha compreensão que requerem alguma disponibilidade e sensibilidade, mas obviamente e como se costuma dizer “a necessidade faz o engenho”. Mas quando se está perante alguém que usa essas mesmas expressões no dia a dia para poder manipular emoções e ideias de uma maneira consciente, como contornamos tamanha capacidade, e se consegue perceber qual é a expressão inconsciente?
Quando estamos numa situação em que a tranquilidade e o bem-estar reinam, e o coração bate forte, certamente que o desejo e a saudade ajudaram na descodificação das mensagens.

6.5.05

Ao “mexillón” galego!

Hoje, numa conversa de esplanada com um espanhol da Galiza que decidiu meter conversa comigo, para saber quais eram os melhores bares da costa para conhecer umas “chicas guapas”, a conversa foi-se desenrolando para outros assuntos e acabei por ter a prova final que não ouve qualquer reconhecimento por parte do governo espanhol e também de uma grande parte do povo galego, do trabalho de voluntariado feito pelos portugueses aquando do acidente do petroleiro “prestige”, dizendo que a maior parte dos espanhóis não faz a mínima ideia que centenas de jovens portugueses rumaram para a Galiza solidários com a desgraça que os estava a assolar.
Não digo que seja triste não haver esse reconhecimento, o que é triste é constatar o total desconhecimento da mobilização que ouve cá em Portugal, e depois do espanhol me surpreender com tal facto fui eu que o surpreendi ao contar-lhe o que por lá nos aconteceu, os concessionários de algumas praias, viam-nos não como voluntários mas sim como trabalhadores, querendo assim “obrigar-nos” a trabalhar em locais específicos para que uma determinada praia estivesse limpa aquando da abertura da época balnear, e assim os cafés e restaurantes pudessem começar a facturar, mais uma vez o lobby sobrepôs-se à boa vontade e a preocupação ambiental que estava inerente a acção de voluntariado, obviamente que quando situações dessas aconteciam imediatamente rumávamos para outras praias onde a real necessidade de apanhar o fuelóleo se sobrepunha aos interesses económicos. O que este espanhol consciente fez foi pedir-me desculpa pela insensatez dos seus conterrâneos e brindarmos ao “mexillón” galego.

4.5.05

Pombo correio

Memórias boas, memórias más, esquecimento….não guardar memórias de momentos passados não faz com que esses momentos não tenham existido, apenas ficam sem lugar na nossa consciência. Teriam esses sido bons momentos, ou teriam sido maus? A certeza é que eles existiram de facto.
Mas qual terá sido o trajecto desses momentos dentro da nossa consciência, passaram de momentos maus para momentos menos bons até passarem a momentos a recordar com alguma saudade até ficarem para sempre esquecidos até que algo como um sonho os faça novamente acordar?
Não tenho resposta para isso, pois a distinção de um mau momento para um momento que num futuro longínquo irá ser recordado com alguma nostalgia, e algo que muitas vezes me acontece.
A saudade será a recordação ou o desejo que um determinado momento se volte a repetir, ou um misto dos dois?
Existem alturas da nossa vida que não são apagadas pelas boas recordações que guardamos, mas as más tem tendência para se apagarem, mas tal não deveria acontecer, digo isto não por querer ser atormentado com tamanha dor, mas para que as causas que originaram essas más alturas não se voltem a repetir, mas a própria natureza humana faz com que o confronto com situações que poderão indiciar um possível sofrimento sejam completamente ignoradas e o desejo de viver um momento intenso faça com a lição seja completamente esquecida, mas o reverso da medalha é o culminar de sentidos que nos permitem voltar a repetir determinadas acções que nos irão proporcionar momentos agradáveis.
Sentir saudade de alguém que nunca mais vamos ver é doloroso mas faz com que os momentos não se apaguem e a memoria continue fresca o que acaba por ser gratificante e saudável, a verdadeira dor existe quando nos auto confrontamos com aquilo que ficou por fazer, e como tal somos impelidos a tomar atitudes mais marcantes e fortes para quem esta ao nosso lado, para que os momentos fiquem cravados na memoria e não ficarmos com a sensação que poderia ter sido feito mais.
Tudo isto é um pouco complexo, encontrar a distinção para diferenças tão subtis que é o nosso inconsciente controla a maioria das vezes.
O que me confronta efectivamente é a facilidade com que algumas pessoas se esquecem de determinados momentos. Com que adjectivo catalogamos tal atitude?
Será isso sinal de inteligência e versatilidade por se adaptar rapidamente a novas situações ou será sinal de falta de ligações sentimentais que não permite guardar recordações e ignore por completo as ligações emocionais passadas? Ou será, analisando mais superficialmente apenas um sinal que o passado não teve a devida importância e a marca desse passado foi facilmente apagada pelo vento?

3.5.05

“Let´s Lynch the Landlord”

O retrato do sistema político/governamental em Portugal pode ser acompanhado de perto mesmo em ambientes e locais mais pequenos onde uma pequena hierarquia administrativa tenta manipular e age com prepotência perante os seus supostos servos. Quando alguém de pouca autoconfiança e sem um papel preponderante e útil na sociedade de fora se senta no banco do poder (por mais pequeno que ele seja), usa e abusa dessa mesma regalia que deveria ser não de direitos mas sim de obrigações e de responsabilidades, como tal a extrapolação para o sistema politico é fácil e eficaz.
Vive-se num ambiente de opressão numa suposta liberdade, coisas simples como um trabalhador se sindicalizar poderá ser motivo de represália por parte da entidade patronal, e ainda se vai para a rua gritar no 1º de Maio? Ai que caralho de democracia se pensa que se está a viver, pode-se comparar com outros países em que o falta do conceito de realidade democrática faz com que o que esteja a ser vivido seja subentendido como o “ideal” e qualquer ataque a esse sistema “perfeito” seja contra-atacado com atitudes extremistas. Cá é o mesmo, pensamos que vivemos num estado de direito e se chame ao presidente dos EUA o líder do “Mundo Livre”, eu pergunto-me como? E vocês? Fazem essa pergunta? A tomada de consciência deve partir do principio que muito esta mal e que muito tem que ser mudado pelas nossas próprias mãos, e não nos podemos acomodar às conquistas de Abril. E todo este circulo de fascismo começa e acaba na natureza humana, e é levado para os postos de trabalho e cargos directivos supostamente não remunerados que ocupam, Estes humanos sedentos de poder e repletos de fraquezas e defeitos nunca deveriam ocupar tais posições, que fazem com que possam usar e abusar do poder para estimulo do seu ego prejudicando assim terceiros. O bem-estar de locais onde pelo numero de pessoas (e outros tantos motivos) exige-se que haja uma direcção deveria começar pelo bom senso de quem “é responsável por ela”, mas a falta de sapiência que se reflecte em atitudes pouco idóneas, fazem com que a resposta por parte de quem as sofre seja repressiva.
“A Luta Continua”
Locations of visitors to this page
eXTReMe Tracker